Pregação – Filhos guiados pelo Espírito de Deus

Filhos guiados pelo Espírito de Deus

Romanos 8.14

Pregação para o Dia de Pentecostes – 19 de maio de 2013

Textos de leitura e pregação: At 2.1-21; João 14.8-17; Rm 8.14-17

Brasília – DF – CECLB

P. Daniel Conte

Uns 15 anos atrás aproximadamente, foi lançado no mercado um pequeno aparelho, o GPS (Global Positioning System, ou Sistema de Posicionamento Global). Através desse aparelho é possível definir o ponto exato onde nos encontramos no momento, seja na superfície da terra, seja num avião, ou seja num barco perdido na imensidão do oceano. Poderei estar perdido na mata virgem, ou no deserto escaldante, ou mesmo numa grande cidade: o aparelho me indica o lugar onde me encontro. Quando lançado, tal aparelho mostrou ser muito útil. Em caso de necessidade, uma pessoa em apuros poderia pedir ajuda e fornecer para a equipe de resgate a posição exata da sua localização. Logo depois, inventaram colocar o tal GPS dentro dos próprios celulares! E aí, o brinquedinho que já era interessante ficou mais ainda!

O legal é que esse GPS (instalado num automóvel), indica a rota que deverei tomar para chegar ao endereço desejado. O aparelho é até capaz de falar!!! “A 50m, no semáforo, vire à direita.” “A 150m, na rotatória, pegue a 1ª saída à esquerda.”  Para motoristas mais apressadinhos, o aparelhinho ficou ainda melhor quando passou a avisar os pardais no caminho: “A 200m, fiscalização eletrônica de velocidade, reduza sua velocidade para 60km/h.” (qual será o próximo passo evolutivo dessa maquininha? Para mulheres: “a 50m, à direita, sua loja preferida de sapatos.” Para homens: “a 100m, uma loja de eletroeletrônicos.” ???)

No fundo, quando a vida nos aperta nos seus dilemas, diante da necessidade de tomar decisões difíceis, talvez desejássemos que Deus tivesse instalado um aparelho desses dentro do nosso coração e mente. Ah! Tudo seria aparentemente tão mais fácil. O aparelhinho poderia lembrar e orientar: “Hoje você precisa visitar sua mãe. Ligue para ela.”; “Vá e diga uma palavra amiga à sua mulher. Ela está abatida e mal-humorada.”; “Dê atenção ao seu filho. A rebeldia dele é sinal de que está sentindo falta de você.” …  “Pare de gastar seu tempo na internet. Vá estudar.”; “Hoje é Dia do Senhor. Acorde. Deixe a preguiça de lado e vá ao culto.” (Essa última deixaria pastores mais felizes!)

Será que com um tal “GPS espiritual” nossa vida cristã não seria muito mais fácil? Nós sempre saberíamos o que fazer no momento oportuno. Seria “faça” ou “não faça”, “vá” ou “não vá”!

“O que farei?” – Talvez se trate da mais antiga e da mais importante pergunta humana que existe. Digo pergunta humana, porque o animal não conhece essa dúvida. Ele segue o seu instinto, seu GPS inato, e basta! Poderíamos chegar à conclusão que a própria pergunta é uma espécie de “prova da existência de Deus”, (segundo o filósofo Emanuel Kant), pois, quando pergunto: o que deverei fazer? – admito que é um outro que dirige a minha vida, não sou eu próprio o dono de minha conduta.

Os pensamentos de Deus não são iguais ao nosso pensamento, mas o que podemos dizer é que Ele não quis seres autômatos. É verdade, Ele nos deu uma consciência, uma voz interna que dá testemunho de sua vontade. E deu-nos a sua Palavra. E o que dizem as Escrituras? “Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra e luz par ao meu caminho” (Sl 119.105). Luz para o meu caminho. Isso significa: eu próprio preciso decidir, a cada passo que dou, onde é que eu vou pisar, onde vou botar meu pé. É uma propriedade fundamental de minha humanidade que eu possa seguir o meu caminho em liberdade.

É falando de liberdade que encontramos os textos de hoje. Em João 14, Jesus promete não abandonar os discípulos à prisão da solidão. O Pai enviará o Consolador, que estará sempre com os discípulos, o Espírito Santo. Em Atos 2, vemos o cumprimento da promessa: A descida do Espírito Santo que liberta da escravidão e paralisia do medo. Em liberdade e coragem, os discípulos saíram às ruas de Jerusalém para testemunhar da ressurreição do crucificado. Em Romanos 8, Paulo fala da liberdade conquistada por Jesus para todos que nele creem. “Nenhuma condenação há para os que estão em Jesus Cristo.” (8.1). O experimentar dessa liberdade só é possível quando nos deixamos guiar pelo Espírito Santo de Deus. Ele é quem nos conduz a um relacionamento vivo com Jesus. Esse relacionamento é que transforma escravos em filhos, em herdeiros, em co-herdeiros do Reino de Deus. Quem entrega sua vida nas mãos de Jesus, entrega nas mãos do Espírito Santo o leme do navio que é a sua vida no mar da existência. “Aqueles que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.” (8.14).

É diferente ser guiado como filho e ser guiado como escravo. Podemos imaginar algumas diferenças…

Mesmo a voz de minha consciência, mesmo a voz interna do Espírito Santo não suprimem essa liberdade. Deus quer que todas as decisões de minha vida sejam tomadas em liberdade. Um casamento forçado, por exemplo, normalmente leva a um rumo errado.

Como o Espírito Santo nos guia? Os principais meios que Ele usa para nos guiar são estes:

1 – O Espírito Santo nos guia pela oração. Na conversa com Deus, eu falo, Ele ouve. Ele fala, eu preciso ouvir! Mas para este ouvir é preciso tempo de qualidade, silêncio, tranquilidade, liberdade. Um dos grandes problemas que conduz a frustrações a boa parte dos cristãos de hoje é o fato de não conseguirem cultivar um lugar e um momento em que possam com liberdade encontrar-se com Deus. Estamos sempre correndo, escravos do relógio. Marcamos hora para começar a falar com Deus e hora para terminar de falar com Deus. Quando começamos nosso diálogo com Deus com hora marcada para terminar, aumentamos as possibilidade de esterilidade dessa experiência de ouvir o falar de Deus a nossos corações durante a oração.

2 – O Espírito Santo nos guia pela Palavra. “Lâmpada para os meus pés.” A Bíblia não é um mapa, com todos os detalhes do caminho a seguir. Ela ilumina. Faz entender melhor o nosso caminho e o caminho de Deus. Conhecer a Bíblia é fundamental para que possamos entender a linguagem do Espírito Santo. Jesus disse em João 14.26 que o Espírito Santo “ensinará” os discípulos e os “fará lembrar” de tudo o que Jesus ensinou. Este é o meio preferencial pelo qual o Espírito Santo nos guia: quando lemos a Bíblia e a estudamos “com gosto” (Martin Lutero), o Espírito Santo nos lembra destes ensinamentos mais tarde nas ocasiões oportunas.

3 – O Espírito Santo nos guia pelo conselho dos sábios. A história de Roboão, filho de Salomão, ilustra muito bem a importância de pedir conselho às pessoas certas. (Confira a história em 1 Reis 12). Roboão escolheu dar ouvidos aos “meninos” em vez de dar ouvidos aos verdadeiros sábios. Seu erro provocou um marco trágico na história de seu reinado e na história do povo de Israel. A divisão ali provocada deixou marcas profundas e quase irreconciliáveis. Deus disponibiliza pessoas sábias em nossas vidas. Precisamos descobri-las. Podemos começar pelos nossos pais, avós. Via de regra, os sábios mais aptos para dar bom conselhos são pessoas experimentadas na vida. Mais do que isso, são pessoas que tem uma caminhada espiritual; pessoas que, com Deus, já atravessaram vales áridos e sombrios de sofrimento, provação e dor na vida; pessoas que mantém um relacionamento comprometido com Deus; pessoas maduras, que sabem discernir as vaidades e superficialidades do nosso mundo pós-moderno e que sabem observar os valores mais profundos da vida humana.

4 – O Espírito Santo nos guia pelas circunstâncias. O apóstolo Paulo queria muito ir a Roma. Embora fosse uma boa ideia, Deus “fechou” as portas por algum tempo. E só permitiu que Paulo chegasse lá mais no final de sua carreira (Romanos  1.11-13; Atos 28.16-31). O rei Davi queria muito construir um templo maravilhoso para Deus. Embora o desejo de Davi fosse genuíno e acertado, Deus não lhe permitiu. A construção do templo coube a seu filho, Salomão (confira 2 Samuel 7; 1 Reis 5-6). Muitas e tantas vezes, Deus abre e fecha portas e caminhos em nossas vidas. Desejamos caminhar numa direção, alcançar realizações, passar em vestibulares e/ou concursos “a”, “b” ou “c”. Nos esforçamos, fazemos tudo direitinho, nossos planos parecem bons e acertados, mas parece que a coisa não acontece. Muitas vezes – não digo que sempre – pode ser a mão de Deus nos livrando de caminhos que, embora pareçam desejáveis, não são realmente bons para nós. Através de portas fechadas, Deus pode estar preparando algo melhor para nós. Precisamos crer que a vontade de Deus é realmente boa, perfeita e agradável (Romanos 12.2). Entregar a direção da nossa vida nas mãos de Deus e confiar nele é a melhor opção que podemos fazer na vida. “Agrada-te do Senhor, e ele satisfará os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor, confia Nele, e o mais Ele fará.” (Salmo 37.4-5). Se uma porta se fecha em sua vida, não desista! Persevere! Mas procure obstinadamente compreender a vontade de Deus para você! (Efésios 5.17)

5 – O Espírito Santo nos guia pela paz interior. “Quando te desviares para a direita e quando te desviares para a esquerda, os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: Este é o caminho, andai por ele.” (Isaías 30.21). Este é um instrumento usado por Deus. Mais especialmente para aqueles que elevam o seu coração ao Senhor; que pedem pelo Seu conselho e direção. Há ocasiões em que tomamos uma decisão e começamos a trilhar tal caminho, mas algo fica dizendo dentro do coração: “tem algo que não está certo!”. Ficamos incomodados, sem sossego. E há situações em que tomamos uma decisão e ao trilhar por aquele caminho, apesar de dificuldades ou perigos, sentimos uma paz dentro do peito dizendo, “é isso aí! Segue firme!”.

É certo que não devemos nos deixar levar apenas pelos “sentimentos”. É por isso que, ao procurar compreender a vontade e direção de Deus em nossa vida, precisamos observar todos esses 5 sinais. Não podemos ousar basear nossas decisões em apenas um outro sinal. O conjunto deles é que deve ser observado.

E agora, no fim dessas reflexões, é preciso fazer uma pequena retificação em toda essa questão de achar o caminho e fazer as coisas certas: há, sim, um GPS no caminho dos filhos e das filhas de Deus. É que Deus sabe, a cada momento de nossa vida, onde nos encontramos, e melhor ainda, Ele sabe nos encontrar. Ele o sabem, mesmo sem usar aparelho; sabe onde nos achamos quando invocamos o seu nome. E Ele não só sabe o nosso paradeiro, mas sabe da nossa angústia, dos nossos perigos em que nos encontramos (nossos medos). “Clame a mim no dia da angústia, e eu o livrarei, e você me honrará” diz o Salmo 50.15. Sim, Deus sabe onde você está, bem neste momento em que me ouve (ou lê essas linhas). E, a cada momento, nós próprios poderemos saber a nossa posição consultando-o em oração, e poderemos entregar-nos a Suas mãos salvadoras. Amém.

* A ilustração e texto sobre o “GPS espiritual” é baseado no texto de Lindolfo Weingaertner, no livro Ensaiando a obediência, da Editora Encontro Publicações.

** O texto sobre a direção do Espírito Santo pode ser encontrado no livro de Nicky Gumbel: Questões da Vida, da Editora Encontro Publicações. E também no Devocionário Orando em Família 2011, também da Editora Encontro Publicações.

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